segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Povo que lavas e lavas no rio

Alguns tem-na grande, outros pequena. Uns sabem usá-la outros... nem por isso. A língua serve para muitas coisas: ora para saborear, ora para falar, ora para...

Pequenina e escondidinha, lá vai, como que numa caixinha, a bela língua, sempre molhada e aconchegada entre os dentes. Quando a boca se abre, lá se solta, qual cavalo indomável, para fazer das suas. Neste galopar, tantas vezes destravado, lá vai o povo trocando palavras com as suas línguas a balbuciar entre dentes, ou gengivas, palavras que dizem bem ou mal, que elogiam os desprestigiam, que erguem ou sufocam a vida de quem por elas passa.


Há as línguas dos políticos e do povo simples, que de política só percebe a cruzinha que escreve nos boletins de votação. Temos as línguas dos ricos, que defendem a vida dos pobres mas que saboreiam maravilhosas tostinhas com caviar. Há as línguas dos pobres, que barafustam e barafustam mas, no fim do dia, caem secas em colchão de palha.

Temos ainda a língua dos padres, língua trabalhadora, que sofre exaustão ao domingo, mas que seca na própria boca e que tem um circuito fechado, pois o que diz não chega aos ouvidos do seu proprietário. Há a língua dos fiéis, que murmura orações na esperança de serem ouvidas. Há a língua dos homens, que são fortes, garanhões, uma língua que pouco se vê, pois é «feio um homem dar à língua». Temos a língua das mulheres, historicamente tão difamada pelos comentários dos machões, mas que bem se reserva diante destes e do que eles dizem.

Temos, ainda, a língua do pai que, perante os apertos, sempre diz: «isso é com a tua mãe». E temos, como é evidente, a língua da mãe, mas dessa nem se pode falar, porque é a língua mais bela do mundo.


Bom, com tudo isto, já me ia desviando do que queria dizer, a verdade de hoje é esta: a nossa língua pode ajudar muito os outros, mas também pode lixá-los bem! E sejamos verdadeiros, o povo português tem cá uma língua!!! Somos prontos a criticar e lentos a corrigir. Temos sempre «na ponta da língua» uma palavra a dizer, mesmo que não percebamos nada do tema. Damos sempre opiniões, mesmo que não no-las peçam e, sempre que surgir a oportunidade, lá damos mais o nosso pontinho quando a conversa é de agulhas e renda. Adoramos falar dos outros, da sua vida, do que sabemos, do que desconfiamos (afirmando como se soubessemos) as suas mazelas e fraquezas, mas ficamos danados quando alguém fala de nós e nos faz o mesmo.


É o povo que lava no rio, lava, lava e lava e depois queixa-se de que as águas estão sujas. Ora aqui está um bom momento para perguntar: e que raio ando eu a fazer com a minha língua???

1 comentário:

Anónimo disse...

Adorei. Realmente, por vezes, nem sonhamos o mal que a língua nos pode fazer ou que a nossa pode fazer aos outros. Fico a pensar na pergunta!
RM